Traders e analistas do mercado de mineração estão perplexos com a velocidade da queda dos preços do minério de ferro no mercado ‘spot’ da China. Segundo um levantamento do Business Briefing Steel (BBS), uma empresa de consultoria da área de mineração e aço, o minério desabou na semana passada. O produto foi cotado sexta-feira a US$ 157 a tonelada, depois de atingir US$ 170 na semana anterior e US$ 180 no início de setembro. Em menos de 40 dias o produto recuou quase 13%.
Raphael Biderman, analista de mineração e siderurgia da Bradesco Corretora, não afasta o risco de um “undershooting” (recuo exagerado) com o minério caindo abaixo de US$ 150. Ele trabalha com média de US$ 155 no ‘spot’ chinês no primeiro trimestre de 2012. Na sua avaliação, este comportamento é derivado de uma “reação emocional” dos mercados frente aos problemas econômicos e financeiros da Europa e dos Estados Unidos, que já começam a contaminar a Ásia. “A China não quebrou, o preço do minério não tem que desabar dada a oferta apertada do produto. O movimento é emocional”.
Siderúrgicas chinesas preveem importar cerca de 670 milhões de toneladas, alta acima de 10% sobre 2010
O preço do minério começou a cair de forma mais abrupta – contrariando o movimento dos últimos trimestres, de alta e descida lenta -, depois que o governo chinês passou a comprar ações dos quatro grandes bancos estatais do país. O fato acendeu os temores nos mercados de uma crise bancária com restrição de liquidez na segunda maior economia do mundo, já que os bancos do país é que financiam as estatais, os Estados e municípios, a construção civil. Ou seja, o desenvolvimento chinês, que sustenta o maior consumo de aço e, consequentemente, de minério de ferro do planeta.
No último mês, a saída de recursos dos bancos chineses foi seis vezes maior do que a entrada. “Uma corrida bancária na China pode ser vista como uma ruptura do modelo e seria extremamente perigosa. Mas este é o pior cenário”, comentou Biderman. Ele vê baixa probabilidade de um “cenário de ruptura” na China, onde o governo é muito centralizador.
Na sua ótica, o governo chinês vai tentar evitar que o pior aconteça e vai procurar reduzir a velocidade do crescimento, fechar a torneira gradualmente e, se conseguir, vai ser o melhor para a China e, consequentemente, para a Vale. Biderman se refere à mineradora brasileira, uma das maiores fornecedoras de minério para o mercado chinês.
A desaceleraçaõ gradual do PIB chinês para casa dos 6% a 7% pode contribuir para reduzir o forte déficit de minério no mercado global, mas será difícil acabar com ele. A China é a maior consumidora de minério de ferro do mundo e deve continuar a sê-lo. No ano passado, as siderúrgicas chinesas importaram mais de 600 milhões de toneladas do produto. A expectativa para este ano é de 670 milhões de toneladas e nesse ritmo as projeções de bancos e consultorias indicavam que atingisse 1 bilhão de toneladas em 2015.
Para Biderman, o que deve acontecer nos próximos dois anos é o minério ficar com um preço mais reduzido, na faixa dos US$ 131, em 2012 e 2013, mas não ficar abaixo de US$ 100 a tonelada nesses próximos dois anos. “O preço do minério não será tão forte como hoje, mas deve permanecer ainda acima de US$ 100 a tonelada, pelo menos até 2013”, prevê o analista.
As oscilações inesperadas do preço do minério tem mexido com os nervos das mineradoras. A anglo-australiana BHP Billiton, por exemplo, tem planos de criar um novo modelo de precificação para a matéria-prima até o fim do ano ou início de 2012, chamado Minério Global, segundo informações da World Steel Association (WSA). A ideia é criar um mercado de derivativos para o produto. A China criou seu próprio índice, que entrou em vigor no início do mês, para cotar preços internos e de importados, semanalmente, segundo informou esta semana.
Fonte: Valor Econômico
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