México: a oposição à mineração a céu aberto

11/10/11

a oposição à mineração a céu abertoA mineração a céu aberto tem sido questionada em muitas partes do mundo por seus efeitos devastadores: elimina bosques, remove e destrói solos, esgota e contamina a água com químicos, expulsa camponeses e comunidades de suas terras, elimina a flora e a fauna nativas e afeta a saúde dos moradores. No México, vem crescendo os protestos contra essa atividade controlada por transnacionais canadenses. O artigo é de Luis Hernández Navarro.

Luis Hernández Navarro – Correspondente da Carta Maior na Cidade do México

Focos de descontentamento contra a mineração a céu aberto surgiram por todo o território mexicano em anos recentes. Moradores de cidades, camponeses e indígenas bloquearam os caminhos de entrada para as minas para protestar contra a devastação ambiental, os danos à saúde e os contratos desvantajosos das grandes empresas transnacionais de exploração mineral. Com frequência, o governo reprimiu os manifestantes.

O mal-estar é grande. As comunidades indígenas da montanha de Guerrero tentam impedir a abertura das minas. Em Zacatecaa, camponeses bloquearam por tempo indefinido as instalações da mina Peñasquito, a maior jazia de ouro do continente americano, inconformados com o fato de a empresa canadense Gold Corp. não ter cumprido o compromisso de firmar um convênio para pagar-lhes uma porcentagem anual de 7% da riqueza obtida com a exploração do filão. O descontentamento se alastrou como um rastilho de pólvora por muitos estados. Os cidadãos de San Luis Potosi se opõem à exploração de ouro e prata na mina San Janvier em Cerro de São Pedro. Em Chihuahua, onde se localizam as maiores concessões para as mineradoras trasnacionais, a resistência camponesa denunciou grandes abusos corporativos.

Em Motozinthla, Chiapas, milhares de pessoas de vários municípios da serra conseguiram suspender 56 licenças de exploração mineira na região, porque só trazem destruição e morte. As concessões favorecem a canadense Black and Fire e a estadunidense Liner Gold Corp. Com frequência os protestos terminam com uma missa. As sete paróquias da zona referendaram a oposição da Igreja Católica ao desenvolvimento que fomenta desigualdades, atropela e exclui pessoas.

Muitas dessas empresas são canadenses. Não estão só no México. Tem o controle de 51% do capital mineiro do planeta. Outras são estadunidenses, australianos, das Ilhas Virgens, argentinas, italianas e também mexicanas.
Estão no México porque o governo abriu as portas. Até 2007, havia outorgado 438 concessões para mineração, a maioria para companhias canadenses. Em Oaxaca facilitou 28 concessões e entregou mais de 70 mil hectares para as transnacionais; em Chiapas, foram 72 concessões. Mais da metade destas explorações nesse estado pertencem às corporações canadenses Linear Gold e Frontier Development Group, mas as comunidades não sabem disso, pois não foram informadas nem consultadas. Apesar de seu investimento ser relativamente reduzido, as transnacionais canadenses que operam no México possuem os projetos mais rentáveis na exploração, desenvolvimento e produção de minas de ouro e prata, o que permitiu a obtenção dos maiores lucros do negócio.

A mineração a céu aberto tem sido questionada em muitas partes do mundo por seus efeitos devastadores: elimina bosques, remove e destrói solos, esgota e contamina a água com químicos, expulsa camponeses e comunidades de suas terras, elimina a flora e a fauna nativas e afeta a saúde dos moradores. As localidades nas quais onde estão os enclaves mineiros recebem como pagamento uma quantidade muito pequena da riqueza que é extraída das entranhas de sua terra.

A Rede Mexicana dos Afetados pela Mineração (Rema) realizou sua primeira convenção de 19 a 21 de junho de 2008, na comunidade de Tamacapulín, Jalisco. Participaram centenas de pessoas pertencentes a organizações sociais, indígenas, campesinas, comunidades, organizações de direitos humanos, de educação, comunicação, de coletivos de estudantes e acadêmicos, provenientes de 12 estados do país. Seu processo organizativo está intimamente ligado com o Movimento Mexicano de Atingidos pelas Represas e em Defesas dos Rios (Mapder).

O primeiro encontro da Rema concluiu com a Declaração de Tamacapulín, que afirma: contra o sentido da história de luta pela soberania e a autonomia de nossos povos sobre território, recursos e destinos, a política governamental dos últimos 25 anos entregou o território e suas entranhas às empresas mineradoras transnacionais e transnacionalizadas. 200 mil quilômetros quadrados, ou seja, 9% do território nacional, foram entregues e presenteados como concessões de mineração.

O rechaço à mineração de céu aberto é, simultaneamente, expressão da luta pela liberação nacional desde o campo popular e combate por um modelo diferente de desenvolvimento, que coloca o bem-estar das pessoas e a defesa do meio ambiente no centro das atenções.

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: Correio do Brasil

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